Senhores de Engenho do Século XXI

Viemos de uma sociedade monárquica, paternalista, fundada em princípios protetivos à nobreza, garantidora e representante dos Poderes Reais.

No início do Século XX, enfrentamos, como sociedade, caladamente o levante da república, com a promessa de trazer igualdade, respeito e participação nas decisões da vida pública a todos os cidadãos.

Não foi o que aconteceu.

Quieta e pacificamente a população viu piorar um sistema calcado no domínio dos grandes nobres do Século, onde grupos de indivíduos, Empresas e/ou Partidos Políticos, se revezam no Poder, tanto de pequenas cidades, como nos Estados e no Governo Federal.

Evoluímos, mas ainda somos uma população de maioria semianalfabeta ou pior, analfabeta funcional, com pouco preparo, pouca cultura, benesses públicas que beiram a inexistência e a dependência de Sistemas Públicos em que apesar do voto, em nada podemos opinar de forma efetiva.

Deixamos algumas pedras para a História, porém, o Castelo Brasil mais parece uma colcha de retalhos de obras, projetos e filosofias politicas inacabadas.

A desgraça que se tornou o Judiciário, apenas aflige ainda mais o cidadão que precisa pensar duas vezes em cobrar o cumprimento do que deveria ser absoluto, já pensando em quanto tempo, quanto de sua paz e do convívio familiar, vai precisar abrir mão para quem sabe um dia receber qualquer tipo de compensação, que seja um pedido de desculpas.

A Justiça que tarda, já falhou.

O domínio mantido e garantido ao longo do último século pelos grupos econômicos que pouco ou nada se diferem da nobreza dos tempos da Monarquia, onde o Dr. Fulano, permanece por décadas e gerações realizando as mesmas intervenções no Poder Público, é a maior demonstração de como nossa sociedade está estagnada.

Até mesmo os grupos que se dizem revolucionários, se entregam ao sistema, corrompidos pela sombra do Poder, apresentando ao público a mesma desculpa já decorada, ou fazemos assim ou jamais poderíamos ter feito isto ou aquilo.

Qual a responsabilidade do Partido Político, pessoa Jurídica, pelos atos praticados por seus representantes, em nome do povo?

Hoje, nenhuma.

O que acontece com aquele que direta ou indiretamente se beneficia com os frutos de atos ilegais?

Hoje, efetivamente, nada.

Fulano, Sr. Dr., usurpou o que não lhe pertencia, utilizando de meios esguios, seus filhos estudaram com os frutos destes atos nas melhores escolas, viajaram o mundo, possuem bons carros, boas casas, bons médicos, bons advogados, o que acontece com estes “terceiros” no Brasil?

Tirando o aborrecimento, nada.

A população, quieta e pacificamente, se contenta em protestar, reclamar e esporádicas vezes tomar medidas mais enérgicas.

Estas figuras que se embrenham por trás das cortinas da política e da sociedade, participando ativamente da vida brasileira, porém, sempre protegidas por uma névoa de personagens públicos que sem dizer nomes ou levantar bandeiras trabalham para garantir a manutenção de riquezas na mão das mesmas famílias que nas pequenas cidades, têm seu nome conhecido por todo e qualquer cidadão que precisa trabalhar para garantir o salário mínimo ao final do mês.

É com este panorama que se revelam os Senhores de Engenho do Século XXI, onde os Coronéis de outrora se tornam os Drs., Senadores, Deputados, Vereadores, grandes proprietários, grandes empresários.

Claro que não é de hoje que vemos e escutamos sobre esta temática, basta para isto procurarmos os registros das obras de comédia do século passado, além de boas risadas, veremos a constatação trágica que apenas os nomes e os discursos sofreram a ação do tempo.

Obviamente que ocorre a generalização, porém, como toda boa regra, possui exceções e não pretendo ferir aqueles que, por claro, verificam que o chapéu não lhes serve.

Tomo como exemplo a legislação aprovada nos últimos meses, que trata do funcionamento de aplicativo de carona ou transporte de passageiros, como quiserem.

Numa involução social de proporções catastróficas a República dos Carimbos, conseguiu sustentar a manutenção de famílias inteiras, que, donas de registros públicos e permissões públicas, a gerações em alguns casos, nos moldes arrastados através dos anos do último século e possuem acesso a quem faz as leis, no controle dos negócios de transporte.

Explico, claro que muitos dos proprietários da licença de taxi trabalham efetivamente como taxistas, porém, outros tantos são funcionários, trabalhando muitas vezes de forma desumana e sem carteira de trabalho.

Com a desculpa de proteger os trabalhadores, foi ceifada uma oportunidade do trabalhador galgar um degrau no desenvolvimento social, que tanto falta ao Brasil.

O Estado, visando proteger um seleto grupo ou melhorar alguma boa situação de meia dúzia de indivíduos, dificulta a possibilidade do cidadão que deseja se ver livre das amarras “burrocráticas”, da legislação brasileira, empreender e alcançar sozinho sua independência.

Fazendo o indivíduo depender cada vez mais da máquina do Estado, a classe política, garante o curral de cidadãos ávidos por “melhorar” o que é direito de todos e garantir o que o Estado lhe “dá”.

Esquece, este mesmo cidadão, que o Estado não “dá” nada, que não existe almoço grátis, que a conta precisa ser paga por alguém e quem paga a conta, exige vantagem e esta mesma pessoa, fará o possível e o impossível para manter suas vantagens.

Nós carneiros, somos utilizados como massa de manobra, para que o Senhor de Engenho possa continuar sentado na varanda observando suas fontes de riqueza se debater com o sonho de evolução.

Catastróficas tentativas de equalizar a balança foram tentadas ao longo de décadas, cada uma com suas peculiaridades, mas todas, marcadas pelo fracasso, quando atingiam o calo do bolso de gerações de indivíduos que, acostumados com o poder e a riqueza que os senhores de engenho, tetravós alcançaram.

No fim do período monárquico, se vendiam títulos de nobreza, no início da república, títulos de empresas, na metade do século, ideias revolucionárias e atualmente executam-se na calada da noite leiloes pelo maior preço, para decidir quem fica com este ou aquele contrato.

O trabalhador que honestamente presta seus serviços e que diante da ineficiência do Poder Público não consegue adquirir a propriedade necessária a seu trabalho, se sujeita a alugar e/ou trabalhar para os proprietários, de terras, de licenças, de autorizações.

As figuras proprietárias de licença, utilizam de um cidadão que jamais conseguirá sair do ciclo de servidão, ou por inépcia, ou por inércia, ou até mesmo por falta de oportunidades, para ver garantida riqueza que não produzem, com o próprio tempo e suor.

São estes senhores de engenho, que na mesma proporção dos grandes latifundiários do século passado, trabalham instigando ideias protetivas a um sistema falido, que pouco ou nada facilita a vida daquele que quer se ver livre das amarras da herança estadista paternalista monárquica que vivíamos a um século atrás.

Criam-se discursos, eivados de malícia, afim de convencer uma população com pouca ou nenhuma cultura, que reformas e protecionismos são necessários, para que estas não precisem perder seus empregos e com isto o mirrado ganho mensal que conseguem, se sujeitando muitas vezes a figuras folclóricas dos confins deste Brasil.

Vejamos o que na mais imediata atualidade vem ocorrendo, crise econômica, para aqueles que se aventurarem a verificar um dos símbolos de status na sociedade brasileira, o automóvel, constatarão que aparentemente não há crise.

Reclamam do volume de vendas, apresentam gráficos e análises financeiras, propõe as mais esdruxulas artimanhas para afirmar que o negócio vai mal, que mudanças são necessárias, que a crise está ai, que é necessário demitir, etc.

Regra básica da economia é a singela ideia da oferta versus a procura, ora, se a procura cai, a oferta aumenta, os preços descem.

Não é o que vemos no Brasil, neste seguimento.

Ao que parece toda a sociedade paga seu preço para ver um país mais justo, igualitário, ideal, contribuindo com seus impostos e principalmente com o trabalho que tanto lhes custa, mas, para aqueles que com abastada vida de riqueza, precisam manter os lucros, a crise não pode chegar, de forma alguma.

Criam-se, meios para garantir que o lucro não diminua, modificando leis e trabalhando a sociedade para que aceitem calada e calmamente o popular dito, é assim mesmo, isso é o Brasil.

Dentro da realidade jurídica atual, verificamos as mais diversas calamidades e divergências, chega-se a encontrar para situações idênticas, três ou quatro decisões divergentes, leis são completamente ignoradas, como se jamais tivessem existido, para que decisões de tribunais, tomadas por meia dúzia de indivíduos que possuem sua posição por indicação do Monarca da República, o Presidente, passem por cima da lei que os representantes do povo talharam nas pedras da história.

Não causa nenhuma estranheza que nos últimos dias, mais uma vez, horrorizados com bizarrices jurídicas, pessoas gritem aos quatro ventos que está tudo errado, que isso precisa, mudar e que medidas precisam ser tomadas pela sociedade.

Nosso Judiciário, além de garantir pouca ou nenhuma credibilidade, é lento e ineficiente, salvo melhor juízo.

O legislativo, fatiado e vendido pelo melhor lance, trabalha para proteger quem melhor derrubar migalhas, travestindo leis com máscara de benesse, apenas para proteger os mesmos indivíduos que dizem combater, com raras exceções.

O executivo, viciado e cambaleante, cria as mais variadas explicações, desculpas e peças teatrais, para dizer ao cidadão, que pouco ou nada se interessa, que está fazendo sua parte, rezando para o assunto ser esquecido antes da próxima eleição, sendo quase impossível encontrar exceção.

Enquanto um país com as mais básicas necessidades sociais de saúde, educação, higiene e alimentação, ainda escancaradas em todos os mais “evoluídos” grandes centros urbanos e ainda mais nos rincões rurais, tentar parecer uma esplendorosa nação, discutindo os mais atuais e contemporâneos temas de direito, de educação, segurança e saúde, ignorando o fato de que a justiça não consegue entregar de forma célere as mais básicas necessidades do direito, a educação não produz cidadãos e cultura, a segurança precisa não consegue ser eficiente, acuada, entre a sociedade e os bandidos, e, a saúde não passa de um grande depósito de doentes que, não conseguindo arcar do próprio bolso com os custos do tratamento de sua saúde, dependem do que o Estado é obrigado a dar, não abandonar os profundos vícios culturais e entender que é necessário extirpar os senhores de engenho da sociedade e suas artimanhas da cultura protecionista, continuaremos rumando ao esplêndido horizonte que nos aguarda, arrastando uma ancora de pesos e ineficiências que pouco ou nada melhoram a vida do cidadão.

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